Prefácio do Editor

Poesia Pós-Beat na China

Prefácio a Poemas Seleccionados de Poetas Pós-Beat na edição Chinesa



Se Wen Chu-an nunca tivesse participado do Festival Lowell Celebrates Kerouac de 1997, a antologia Poemas Selecionados de Poetas Pós-Beat não existiria. Enquanto professor convidado na Universidade de Harvard, Wen tomou conhecimento do fenómeno Pós-Beat na Small Press Fair do Festival, onde escritores com idades entre trinta e sessenta anos vendiam livros de poesia que haviam publicado em pequenas editoras ou em edições de autor. Enquanto a minha mulher, Elaine Kass e eu vendíamos os meus livros e gravações na nossa mesa, o professor Wen apresentou-se e disse-nos que estava a traduzir On the Road de Jack Kerouac para Chinês. Impressionado com o seu espírito pioneiro, convidei-o a sentar-se e a conversar connosco. Durante a hora seguinte, possivelmente duas, discutimos longamente a Geração Beat e os seus sucessores, e concordámos em permanecer em contacto.

Após o regresso do professor Wen à Universidade de Ciências Médicas da China Ocidental em Chengdu (agora incorporada na Universidade de Sichuan), onde é professor de Inglês, continuámos a comunicar por e-mail. Além de discutir o trabalho de Kerouac e Allen Ginsberg, discutimos as dificuldades que experimentei em encontrar editores, distribuidores e revisores para o meu trabalho e disse-lhe que não estava sozinho, que o sistema literário americano tinha ignorado praticamente toda uma geração de escritores que continuaram a promover o trabalho dos fundadores da Geração Beat. Impressionado com o trabalho dos poetas da Geração Pós-Beat que lhe enviei, o Professor Wen entrevistou-me sobre esses escritores . A sua entrevista, “Beneath the Underground: Post-Beat Writing in America”, apareceu na Contemporary Foreign Literature, acompanhada por poemas de cinco dos poetas que constam nesta antologia. Após a sua publicação, Zhang Ziqing, editor de Literatura Estrangeira Contemporânea, discutiu a publicação de uma antologia de poesia Pós-Beat com o professor Wen, que posteriormente me abordou sobre a edição dessa antologia, o que prontamente concordei em fazer.

O primeiro problema que enfrentei ao editar uma antologia de poetas Pós-Beat foi estabelecer uma definição de Pós-Beat. Definir Pós-Beat representa um desafio semelhante à discussão de Wittgenstein em Investigações Filosóficas sobre as dificuldades inerentes à definição de um jogo. Wittgenstein disse: desconhecemos os limites porque nenhum deles foi traçado.

Os limites da literatura Pós-Beat nunca foram traçados. Ao contrário dos Beats, os Pós-Beats nunca existiram como movimento literário, ou mesmo como uma rede estreitamente unida. Surgiram espontaneamente nos Estados Unidos. Alguns foram contemporâneos sociais dos Beats originais, outros descobriram-nos perifericamente. Muitos leram apenas sobre eles. Um número significativo de Pós-Beats atingiu a maioridade na década de 1960. Na falta de um génio de marketing como Allen Ginsberg para trabalhar nos bastidores em seu nome, trabalharam individualmentes através de uma paisagem literária cuja homogeneidade se dissipou, em parte porque a influência dos Beats se estende muito mais profundamente na literatura e na cultura americanas do que muitos americanos imaginam. O trabalho de Kerouac fez mais do que lançar a revolução da mochila que descreveu em The Dharma Bums; a sua Spontaneous Bop Prosody influenciou o Novo Jornalismo de Tom Wolfe e Hunter S. Thompson, e a Poesia Linguística de Clark Coolidge. As suas gravações de prosa e poesia com acompanhamento de jazz anteciparam a Performance Poetry actualmente praticada nos American Poetry Slams e o género contemporâneo dos mídia conhecido como Performance Art. As técnicas literárias exploratórias de William Burroughs influenciaram grande parte da ficção experimental que surgiu a partir da década de 1960, desde o Avant-Pop e a Meta-Ficção até a textos aleatórios, bem como várias gerações mais jovens de escritores de ficção científica. Através da discussão aberta da sua homossexualidade, a poesia de Allen Ginsberg ampliou o leque de assuntos considerados aceitáveis como literatura. Sem Ginsberg, como poeta e activista social, o campo da literatura Gay, Lésbica e Feminista nunca poderia ter-se desenvolvido. No cenário literário heterogéneo da actualidade, muitos dos escritores influenciados pelos Beats escrevem em géneros cuja existência os Beats inspiraram, mas que não são considerados Beat. Além disso, desde a aquisição corporativa da indústria editorial e das livrarias, que começou no início da década de 1970, a maioria das grandes editoras apenas publica o trabalho de estrelas de rock, ex-presidentes e outras figuras mediáticas cuja poesia ocasional, independentemente da qualidade, garante dar lucro.

Apesar disso, uma pequena rede de escritores nos Estados Unidos designa o seu trabalho como Pós-Beat. Embora não seja uma escola ou movimento, integram a cultura alternativa que agora existe em quase todas as cidades Americanas de média dimensão. Publicam os seus trabalhos em revistas de pequenas editoras, que imprimem menos exemplares de cada edição do que as pequenas publicações da imprensa que recebe financiamento universitário e governamental. Alguns dos editores de pequenas editoras publicam os livros dos escritores dentro sua rede, enquanto outros escritores publicam os seus livros por conta própria. Para os propósitos desta antologia, o Professor Wen Zhang e eu concordámos em focar-nos nesta rede ad hoc, cujo trabalho amplia visivelmente as conquistas dos Beats em novas técnicas poéticas e narrativas, bem como em questões de estilo de vida, justiça social e busca espiritual. Muitos dos poetas seleccionados para esta antologia recitam os seus trabalhos em público, frequentemente com acompanhamento de jazz. Vários dos poetas desta antologia estudaram na Universidade de Naropa, sem dúvida o que é mais próximo de uma academia Pós-Beat.

Salvo raras excepções, como a de Anne Waldman, que é Diretora da Escola de Poéticas Desincorporadas Jack Kerouac de Naropa, os poetas Pós-Beat não receberam  reconhecimento público ou crítico pelo seu trabalho. Espera-se que esta antologia eleve o seu trabalho a uma cultura literária onde será apreciada a poesia fresca e única que oferecem ao mundo.



Vernon Frazer 


Tradução de Luísa Vinuesa